O 31 de março e o respeito à história


 Dirceu Cardoso Gonçalves

               Suspensas desde 2011 por ordem do governo da petista e ex presa política Dilma Rousseff, as evocações a 31 de março, voltarão a acontecer nas unidades militares federais  neste fim-de-semana, por orientação do presidente Jair Bolsonaro. Além de demonstrar claramente a mudança da orientação ideológica do governo, o acontecimento não deveria provocar maiores ruídos. Comemorar ou lamantar a data é opção de cada um segundo suas crenças e convições, mas em nada altera o efetivamente ocorrido e nem a história do país em relação à data e seus desdobramentos.

                Já se vão 55 anos do 31 de março de 1964, quando o presidente João Goulart deixou o do poder e assumiram os militares, que permaneceram até 1985. É importante lembrar que o país vivia grande agitação. Goulart era acusado de tentar um golpe à esquerda e os militares  assumiram em atendimento à mobilização dos adversários do governante afastado e sob a bandeira de terem livrado o país do comunismo. Quem afastou o presidente, no entanto, foi o Congresso Nacional e o próprio Goulart preferiu buscar o exílio no Uruguai, não resistindo para, entre outras coisas, evitar o derramamento de sangue. Nos anos seguintes, os opositores do regime – então autodenominado revolução e não golpe, como se chamou após 1985 – promoveram a luta armada e houve o confronto com exílios, banimentos, tortura e mortes de ambos os lados, o que resultou em todo o proselitismo sobre o período.

                Ao devolver o poder aos civis, o governo militar editou a Anistia, com o perdão tanto aos que se insurgiram quanto aos que se excederam na repressão. Mas, mesmo beneficiados, tanto uns quanto outros, passaram a desfrutar da lei e ao mesmo tempo contestar o benefício aos adversários. O fenômeno tende a desaparecer só quando estiver inteiramente coberto pela poeira da história, isto é, no dia que não mais estiverem vivos os diretos envolvidos. Importante destacar que a maior parte deles já é morta, restando apenas as narrativas.

                É inegável que ocorreram excessos, tanto do governo quando de seus opositores, e ambos os lados têm justificativas para o que cometeram. Ao longo dos 34 anos da nova democracia, os reabilitados de 64 abusaram da narrativa vitimista, formando gerações de jovens com sentimento de terem sofrido com a ditadura mesmo tendo nascido depois do seu término. Agora, com a derrocada dos governos de esquerda, ensaia-se fazer o contrário, exaltando-se o período 64-85. O ideal é que não ocorra uma coisa nem outra. A população, que não participou dos fatos, tem o direito de conhecê-los com fidelidade histórica. Sem o costumeiro vício dos narradores que ignoram as fraquezas do lado de sua simpatia e carregam de defeitos os que têm como adversários.

                31 de março de 1964 foi apenas um dia no calendário. O que nele ocorreu e suas consequências, são apenas o resultado das variáveis, políticas, econômicas e sociais vigentes à época. Nada mais..

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)

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