Negociar hoje para não ter de comprar amanhã


Dirceu Cardoso Gonçalves

                O país assiste, apreensivo, a corrida dos pré-candidatos em busca de alianças para as eleições. A mais expressiva demonstração de falta de compromisso ou posicionamento político-ideológico, está no chamado Centrão que, ao mesmo tempo, negociava com Ciro Gomes (PDT) – hoje rotulado como de esquerda – e com Geraldo Alckmin (PSDB), colocado mais à direita, e acabou fechando com o tucano. O próprio Ciro, ao mesmo tempo que acena à esquerda na tentativa de arrebanhar o espólio eleitoral de Lula, se esforça para agradar aos moderados. É o jogo da sedução política e, o pior, dos interesses. Por essas negociações pré-eleitorais passam as alianças regionais de onde sairão os candidatos a governador, senador e os futuros componentes da administração federal e das estaduais. A moeda de troca mais explicita neste momento é o horário de rádio e TV de que cada partido dispõe. Quem tem mais horário em ambos os veículos, pelo menos teoricamente, ganha mais facilmente as eleições.

                Embora esse balcão de negócios possa parecer esquisito aos desencantados eleitores, é preciso considerá-lo legitimo. Os políticos deveriam fazer todas as negociações e acomodações nessa época para, uma vez montado o time, juntos ganhar as eleições, e não negociar depois delas. Infelizmente, no Brasil redemocratizado a partir de 1985, tornou-se hábito o eleito – presidente, governador e prefeito – sair comprando votos parlamentares para fazer as maiorias legislativas de sustentação ao seu governo. Para garantir esses votos legislativos, muitos desonram compromissos assumidos antes das eleições e distribuem,  irresponsavelmente, cargos da administração para os ex-adversários cooptados. É por isso que, entre outros exemplos, chegou-se a ver durante os governos petistas, até figuras que serviram de forma destacada ao regime militar se comportando como se fossem petistas (e até esquerdistas) desde criancinhas. Só podia dar no que deu.

                Para tentar trazer de volta a credibilidade à classe política, os candidatos às próximas eleições deveriam levar até a exaustão as negociações pré-lançamento das candidaturas. Fazer todas as acomodações possíveis e imagináveis e depois fechar as portas. Os eleitos devem governar com os que participaram de suas eleições e são comprometidos com o projeto de governo. E jamais comprar os adversários, pois a estes cabe a tarefa de, sendo oposição, fiscalizar e se preparar para, no próximo pleito, levar o seu grupo a concorrer e se possível ganhar o Executivo. Se isso tivesse sido praticado ao longo dos 33 anos de regime democrático em que vivemos, teria se consumado a salutar e esperada alternância do poder, nossa democracia estaria fortalecida e a grande beneficiada seria a Nação, compreendida no seu sentido mais amplo: a soma de povo, território, costumes e interesses…

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) – aspomilpm@terra.com.br