Universidade de SP relata tratamento que elimina HIV de paciente


A pesquisa será apresentada nesta terça-feira, 7, na 23.ª Conferência Internacional de Aids, o maior congresso sobre o tema do mundo

Universidade de SP relata tratamento que elimina HIV de paciente
 De acordo com a universidade, os resultados representam mais um avanço nas pesquisas que, um dia, podem levar à descoberta da cura da aids. Este é o terceiro caso na história em que a eliminação do HIV é descrita.

Coordenada pelo infectologista Ricardo Sobhie Diaz, diretor do Laboratório de Retrovirologia do Departamento de Medicina da instituição, a pesquisa da Unifesp contou inicialmente com 30 voluntários que apresentavam carga viral do HIV indetectável no organismo e faziam tratamento padrão com coquetéis antirretrovirais. Eles foram divididos em seis grupos e cada um recebeu uma combinação de medicamentos, além do tratamento padrão.

O grupo que apresentou melhor resultado recebeu dois antirretrovirais a mais que os outros: uma droga mais forte chamada dolutegravir e o maraviroc, que “força” o vírus a aparecer, fazendo com que ele saia do estado de latência, uma espécie de esconderijo no organismo. Ainda segundo a Unifesp, outras duas substâncias prescritas potencializaram os efeitos dos medicamentos, a nicotinamida e a auranofina.

Mas a pesquisa em torno de um tratamento eficaz contra o HIV não parou por aí. Depois de descobrir o uso das novas drogas, os pesquisadores desenvolveram uma espécie de vacina com as chamadas células dendríticas (células imunes), que conseguiu “ensinar” o organismo a encontrar as células infectadas e destrui-las.

O tratamento foi realizado durante um ano e depois de 14 meses o vírus continua sem ser detectado no organismo do paciente. “Esse caso é extremamente interessante, e eu realmente espero que possa impulsionar mais pesquisas sobre a cura do HIV”, disse Andrea Savarino, médica do Instituto de Saúde da Itália que co-liderou o estudo.

Andrea alertou que os outros quatro pacientes do grupo que recebeu a mesma medicação não tiveram o vírus eliminado do organismo. “Pode ser que o resultado não seja passível de reprodução. Este é um primeiro estudo, que precisará ser ampliado.”

A Conferência Internacional de Aids é organizada pela Sociedade Internacional de Aids (International Aids Society, ou IAS, em inglês) a cada dois anos e tem apoio do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids). O evento, que debate descobertas científicas sobre o HIV no mundo todo, ocorreria neste ano em San Francisco, nos Estados Unidos, mas será realizado de maneira virtual por causa da pandemia.

A pandemia do coronavírus também está afetando a distribuição de medicamentos para pacientes do HIV ao redor do mundo. Nesta segunda-feira, 6, a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que 73 países alertaram que correm o risco de ficar sem antirretrovirais. Vinte e quatro países relataram que estão com baixo estoque e sofrem com interrupções no fornecimento desses medicamentos que salvam vidas.

Os dois outros casos descritos na ciência

Outros dois casos de pacientes que tiveram o HIV eliminado do organismo são descritos pela ciência.

O pioneiro foi o do americano Timothy Ray Brown, hoje com 54 anos, que, além de HIV, também tinha leucemia. Para superar a doença, após sessões de quimioterapia sem grandes efeitos, a equipe médica realizou um transplante de medula.

O HIV precisa de uma proteína presente no sangue para se reproduzir e algumas pessoas não a produzem, em razão de uma rara mutação genética que as deixa imunes ao vírus. A estratégia – inédita e certeira – foi encontrar um doador que se encaixasse nesses parâmetros, para destruir o sistema imunológico original e criar um novo mecanismo de defesa para eliminar o vírus.

Após vencer o HIV, em 2007, Brown ficou conhecido como “paciente de Berlim”, já que vivia na cidade alemã. Para combater a leucemia, o americano precisou de um novo transplante de medula, do mesmo doador. Cerca de 12 anos depois, a estratégia da doação de medula voltou a dar certo, dessa vez em um paciente de Londres. Os cientistas descreveram o caso como “remissão em longo prazo”.